O momento era de cerimónia e de premiação: o investigador Gonçalo Correia recebia o Prémio Vencer o Adamastor por um projecto na área da inteligência artificial. Presente nessa entrega, Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou para chamar a atenção para um “Adamastor” no país: “Portugal está mais de uma década atrasado em termos de investimento em investigação e desenvolvimento.” O Presidente da República referia-se ao facto de em Portugal a investigação e desenvolvimento representar cerca de 1,7% do PIB e de, já em 2013, a média europeia rondar os 2,6% do PIB investido em investigação e desenvolvimento (I&D). Esse atraso é um “Adamastor” que tem de ser vencido.
Mas Marcelo Rebelo de Sousa não foi o único a mencionar o “Adamastor” do problema do financiamento em ciência. Na atribuição do prémio, Luís Ferreira, reitor da Universidade de Lisboa, atentou precisamente para essa questão e explicou a necessidade de investimento. “A ciência demora tempo, precisa de um tempo próprio e de um financiamento continuado”, assinalou. “Não se faz a [dar] milhões [de uma só vez] e nos próximos três anos não há. Isso é mortal para a ciência e temos vivido muito esse ambiente em Portugal, ora temos bastante e usamos, ora depois passamos anos de penúria seguidos.”
Luís Ferreira não se cansou de salientar que a ciência pressupõe um ambiente lento, “um ambiente de meditação”, que é uma palavra que vem originalmente do grego e que significa etimologicamente “fazer mel”, notou. “Fazer mel é pegar nas pequenas coisas, metabolizá-las antes de as pôr de novo para o exterior e dar aos outros”, refletiu. “A ciência faz-se como se faz o mel, com esse tempo necessário e que não pode ser interrompido por um fogo que queimou aquela zona toda [onde estava uma colmeia] ou por uma ausência de financiamento.”
Por isso mesmo, propôs o desafio de olhar para a estrutura de financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT): “Quando olhamos para os recursos humanos e o que se chama ‘relações internacionais’, têm mais de 50% do orçamento e os projectos têm 17%. É exactamente o contrário que tínhamos na década de 90, quando demos o grande pulo em termos de investigação.” O reitor da Universidade de Lisboa propõe que se inverta essa lógica, outra vez.
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