O título que coloca Belo Horizonte como capital nacional do grau está ameaçado. Isso porque a Prefeitura de Belo Horizonte informou que não irá renovar a concessão da área de prática do esporte para o ano que vem. Sendo assim, a autorização para os atletas empinarem as motos de forma segura na avenida Clóvis Salgado, no bairro Bandeirantes, vence neste sábado (31). Sem um espaço adequado, apoiadores do movimento se sentem penalizados pelo grupo que não cumpre as regras do esporte.
Para os adeptos do grau, é fácil diferenciar os atletas daqueles que empinam motocicletas por imprudência, mas a repercussão das manobras em vias públicas, quando são consideradas infrações de trânsito gravíssimas, tem roubado a confiança no esporte. “Todas as práticas esportivas contam com infratores que não cumprem as regras e esses devem ser punidos, mas penalizar os atletas conscientes não é o caminho”, conta o professor de grau, Cristiano Júnior, que também é presidente da Associação Mineira Dos Motociclistas De Esportes Stunt E Grau (Astung).
A preocupação de Cristiano é quanto à repressão do movimento do grau, na contramão do que vinha acontecendo desde o início de 2022. Aquele que prometia ser o ano da capital do grau para Belo Horizonte, está se tornando exatamente o contrário. Só para se ter uma ideia, o “espaço do grau”, com quase 58 mil metros quadrados, foi disponibilizado pela prefeitura em março. Mais para frente, em agosto, foi publicado no Diário Oficial do Município (DOM) a lei que declara BH como a capital nacional do esporte.
Mas, a partir de então, a situação desandou. Somente nesta segunda quinzena de dezembro, duas pessoas morreram em “rolezinho do grau” no Anel Rodoviário e um ficou ferido ao ser baleado enquanto fazia manobras de motocicleta no bairro Jardim Vitória, região Nordeste da cidade. Ainda, reclamações quanto ao barulho das motocicletas tomaram as redes sociais. “É tudo muito novo. Este é um esporte que vem crescendo cada dia mais e não pode ser confundido com as infrações. Creio que Belo Horizonte quer ser a pioneira no país ao incentivar o grau. O projeto não pode ser abandonado”, protesta Cristiano.
Quem também acredita que a suspensão da área do grau, na região da Pampulha, ainda vai ser contornada é o vereador Bim da Ambulância (AVANTE). Bim foi o autor do projeto de lei que deu destaque ao esporte na capital e usou o tema do grau como jingle da sua campanha para a Câmara em 2020. Segundo ele, se o espaço for negado, o efeito será contrário ao desejado. “Com o tempo, corre o risco dos atletas voltarem às vias públicas, já que ficarão sem lugar para praticar”, explica.
Bim lembra que, além da prática do esporte com as motocicletas, não há outro projeto de utilização da área na avenida Clóvis Salgado. A região ficaria, então, abandonada. Para ele, agir contra a discriminação que o esporte ainda carrega é um processo diário. “O grau não acontece da forma que a sociedade julga, é legítimo e seguro. Quando é praticado com consciência, vence o julgamento”, conta o vereador.
Nas aulas do professor de grau Cristiano Júnior, ele garante a prática segura e correta do esporte. “Faço o trabalho de conscientizar os praticantes, meus alunos. Grau só é esporte quando está no lugar adequado. Na rua, é crime!”, diz.
Segundo Júnior, na área do grau é proibido “cortar giro”, isto é, acelerar a moto até a quantidade máxima de rotações do motor, e “fazer borrachão”, manobra que consiste em manter a motocicleta quase parada com as rodas girando em alta rotação, o que gera fumaça, faíscas e até chamas. Os equipamentos também são obrigatórios, como o uso de capacete e tênis.
Sem o espaço, as aulas terão que ser deslocadas para área particular no Bairro Olhos-d’Água, na região Oeste da cidade, o que vai aumentar a locomoção dos alunos em ao menos 17 km.
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