Neste ano, vivemos de forma intensa os efeitos das mudanças climáticas, que têm se manifestado em eventos extremos, como secas prolongadas, chuvas intensas e aumento da temperatura global. Nesse contexto, a parceria entre o agronegócio e as fontes de energia renováveis tem se mostrado cada vez mais crucial. A energia está presente em quase todas as etapas do agro, desde a irrigação até o processamento de alimentos, passando pela operação de máquinas agrícolas e sistemas de refrigeração. Essa colaboração não só tem o poder de reduzir os custos operacionais do setor, mas também se alinha aos objetivos globais de descarbonização, promovendo um modelo mais sustentável de produção.
O Impacto das Emissões de CO2 e o Papel do Agro
De acordo com dados do Global Carbon Budget, a energia é responsável por cerca de 40% das emissões globais de CO2. No Brasil, as emissões estão altamente concentradas nos setores de agricultura, florestas e uso do solo, representando cerca de 68,75% do total emitido no país. Nesse cenário, a implementação de práticas agrícolas mais sustentáveis, com o uso de energias renováveis, surge como uma solução estratégica para reduzir essa pegada de carbono.
A Energia Solar no Agro: Autossuficiência e Redução de Custos
Atualmente, muitos produtores rurais estão adotando a prática de produzir sua própria energia, utilizando fontes renováveis como a solar fotovoltaica para alimentar máquinas, sistemas de irrigação, refrigeração e iluminação. A energia solar fotovoltaica se destaca por sua capacidade de gerar eletricidade a partir da luz solar, um recurso abundante e renovável. Essa modalidade de energia tem se popularizado principalmente nos modelos de autoprodução e geração distribuída, permitindo que os produtores se tornem “prosumidores”, ou seja, produtores e consumidores de energia ao mesmo tempo.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), o Brasil já conta com mais de mil prosumidores no setor agropecuário, espalhados por cerca de 410.400 telhados, silos e outros espaços adaptados. O uso da energia solar fotovoltaica contribui para a redução de custos operacionais, diminui a dependência de fontes de energia não renováveis e promove uma produção mais limpa.
Agrovoltaica: Sinergia entre Energia Solar e Produção Agrícola
Além do uso convencional da energia solar no agro, uma inovação interessante é a aplicação da energia agrovoltaica, que combina a produção agrícola com a geração de energia fotovoltaica. Nessa sinergia, as placas solares são instaladas em áreas de cultivo, como hortaliças, verduras e até plantações de cana-de-açúcar, permitindo que os produtores obtenham benefícios simultâneos: a produção de energia limpa e a continuação da agricultura. Essa abordagem também pode ser aplicada em pivôs de irrigação, onde a energia gerada é utilizada diretamente no processo de irrigação, contribuindo para a eficiência hídrica.
Além disso, a energia gerada pode ser usada para otimizar o uso de tecnologias como drones, sensores e sistemas de monitoramento de qualidade do solo e das colheitas, além de melhorar a segurança nas propriedades rurais por meio de sistemas de vigilância.
Energia Microbiológica e Biomassa: Novas Fronteiras da Energia no Agro
Outra vertente promissora no setor agropecuário é o uso da energia microbiológica, que explora a capacidade dos microrganismos de transformar a energia química presente na biomassa em energia elétrica. Esses microrganismos, como bactérias e fungos, podem converter dejetos animais, resíduos orgânicos e restos de culturas agrícolas em combustíveis renováveis, como biometano, bioetanol, biodiesel e até hidrogênio.
A biomassa, quando utilizada adequadamente, pode gerar eletricidade e calor, substituindo fontes de energia não renováveis e contribuindo para a descarbonização do setor agropecuário. Os biocombustíveis gerados por essa tecnologia podem ser usados em máquinas agrícolas, como tratores e caminhões, o que representa uma oportunidade de descarbonizar as frotas do campo e diminuir ainda mais a dependência de combustíveis fósseis.
Biogás e Biometano: Soluções para a Sustentabilidade Energética
O biogás, produzido a partir da decomposição de matéria orgânica, é uma das formas mais promissoras de bioenergia no setor agropecuário. Em um processo controlado, a biomassa é transformada em metano, um gás que pode ser usado para gerar eletricidade ou calor. Esse biogás pode ser refinado para produzir biometano, que tem o potencial de substituir o gás natural e ser comercializado ou utilizado para abastecer veículos e máquinas agrícolas. O biometano é uma solução sustentável e econômica, pois não apenas ajuda a reduzir os custos com energia, mas também oferece uma forma eficiente de tratar resíduos orgânicos.
O Futuro do Agro e Energia: Descarbonização e Resiliência Climática
A parceria entre o agronegócio e as fontes de energia renováveis é fundamental para garantir um futuro mais sustentável, tanto para o meio ambiente quanto para o setor produtivo. A transição energética que estamos vivenciando no mundo é uma oportunidade de reverter os impactos das mudanças climáticas, promovendo a redução das emissões de gases de efeito estufa e a criação de sistemas de produção mais resilientes.
As inovações tecnológicas no uso de energia no campo são um passo importante para fortalecer a resiliência do agronegócio às mudanças climáticas e garantir a segurança alimentar para as próximas gerações. A combinação de práticas agrícolas sustentáveis com fontes de energia renováveis como a solar, a microbiológica e o biogás está não apenas transformando a maneira como a agricultura é feita, mas também contribuindo para um mundo mais verde e sustentável.
Em síntese, o agro e a energia renovável estão cada vez mais interconectados, promovendo uma verdadeira revolução verde no campo e abrindo caminhos para um agro mais sustentável, eficiente e adaptado às exigências do novo cenário climático global.
Da Redação Na Rua News
Deixe o Seu Comentário